sábado, 17 de março de 2012

Minhas raízes

Morei na mesma casa desde os 6 anos de idade até completar 40, antes disso, meus pais não tinham casa própria, então morávamos de aluguel, neste período morei em três casas.

A minha primeira moradia foi um sobradinho da Vila I.A.P.I., uma antiga vila de Taubaté, próxima ao Sítio do Picapau Amarelo, onde meus pais moravam antes mesmo de se conhecerem. Meu pai, desde a infância, onde cresceu e conheceu seus melhores amigos. Minha mãe, desde mocinha, quando veio de Resende para trabalhar em Taubaté. Muitos anos depois eles se conheceram, se casaram e optaram por continuar morando no mesmo bairro. Morei lá até os 3 anos de idade, onde aprendi a andar, a falar e a interagir com o mundo.  Apesar de ter saído de lá muito pequena, voltei muitas vezes para visitar os amigos dos meus pais, por isso, não sei definir se as lembranças que tenho de lá são da minha própria memória, ou se foram reforçadas pelas fotos, pelas histórias ou pelos retornos com o passar dos anos...

Depois, aos 4 anos de idade, fomos morar no Jair Freire, um bairro simples, ao lado da Estrada Velha Taubaté-Tremembé. Lá morei apenas 1 ano e as lembranças mais marcantes que tenho desta fase são dos vizinhos da frente, a família do Dr, Raymundo, que se tornou nosso dentista por muitos anos... A filha caçula dele estudava com a minha irmã e se tornou nossa amiga, e a esposa dele, muito amiga da minha mãe. Mesmo mudando de lá, mantivemos relação com esta família por muito tempo, mas hoje, infelizmente, perdemos contato... Desta época, lembro-me muito, também, da Margarida, uma lebre branca, que tive de estimação, e que se mudou com a gente para a outra casa.

A terceira residência foi na Vila MEP, um conjunto de casas da Mecânica Pesada, fábrica onde meu pai trabalhou por muitos anos (atual Alstom), e que oferecia essas casas aos moradores por um custo muito baixo. Moramos nesta casa também por 1 ano, mas de lá tenho mais recordações... Lembro-me que havia uma grande árvore em frente a minha casa, onde viviam as cigarras! E eu adorava o canto delas! Até hoje, ao ouvir uma cigarra, eu me lembro daquela época... Lembro-me também que tinha muita libélula, de várias cores, umas de rabinhos finos, que eu pegava na mão, e outras de rabinhos mais gordinhos, que eu tinha medo... E que costumávamos brincar de caçá-las... Era divertido sair correndo atrás delas... Hoje me pergunto o que aconteceu com as libélulas, pois já não as vejo mais... Pelo menos naquela quantidade... Foi lá também, na Vila MEP, que comecei a estudar, aos 5 anos de idade frequentava o jardim da infância, que ficava atrás da minha casa. Lembro que a minha irmã me passava o lanche pela cerca na hora do recreio... Isso, quando a professora não inventava de levar as crianças ao clube, que ficava ao final da Rua Jacarandá, a rua da minha casa. Desta vila também levamos bons amigos, alguns até os dias de hoje!

No final do ano de 1977, meu pai recebeu uma proposta para mudar de emprego, para uma oportunidade muito melhor! Ele continuaria trabalhando com o mesmo chefe, mas em outra empresa. Então ele foi dispensado da Mecânica e com a indenização recebida, de 10 anos de empresa, comprou a nossa primeira casa própria, uma casa simples, geminada, com quintal de terra e uma edícula nos fundos, em um bairro sem muita estrutura, com ruas sem asfalto, próximo à Dutra, mas em uma região da cidade que começava a crescer... E foi lá, no Jardim Ana Emília, que eu cresci! E é desta casa que eu tenho as melhores lembranças da minha vida... E que eu chamo de “a casa da minha infância”.

Quando mudamos para lá eu estava completando 6 anos e fui matriculada na Escola Luiz Augusto, onde estudei até me formar, no que chamamos hoje de Ensino Fundamental, pois lá não havia ensino médio, ou eu não teria mudado de escola. Nesta casa fiz novas amizades e conheci minhas melhores amigas, que me acompanham até hoje. Nesta casa eu brincava de boneca, brincava na rua de esconde-esconde, de amarelinha, aprendi a andar de bicicleta, fiz primeira comunhão, dei meu primeiro beijo, me apaixonei diversas vezes, me formei no ensino técnico, na faculdade, comecei a trabalhar, a viajar, mudei para São Paulo, voltei, fiz pós-graduação, vivi momentos felizes, outros tristes, sorri e chorei, enfim, nesta casa eu cresci e vivi a maior parte da minha vida!

Paralelo ao meu crescimento muitas mudanças ocorreram, na própria casa, que foi reformada diversas vezes, e na última delas, chegou ao que sempre desejamos, tornando-se mais espaçosa, mais bonita e mais confortável! Ao longo desses anos o bairro também cresceu muito, ganhou um Terminal Rodoviário, um Horto Florestal, um Corpo de Bombeiros, Museus, as ruas foram asfaltadas, o comércio foi ampliado, incluindo um hipermercado, algumas agências bancárias foram instaladas, e até uma FATEC começará a funcionar este ano, enfim, a região toda se desenvolveu.

Mas como tudo muda nesta vida, chegou um dia em que nós também mudamos... Deixamos a casa tão querida e mudamos para um apartamento, em outra região da cidade, onde começaremos uma nova história!

A nossa casa continua lá, e, graças a Deus, continua sendo nossa! Espero que os nossos futuros inquilinos sejam tão felizes naquela casa como sempre fomos! E quem sabe um dia, daqui a alguns anos, eu ainda volte a morar lá? O futuro a Deus pertence... Mas o passado faz parte da nossa história! E toda história merece ser registrada, relembrada e contada! Por este motivo, fiz questão de contar a vocês a história da casa da minha infância, pois não importa para onde vamos, só não podemos esquecer as nossas raízes!

14 comentários:

Karina Aldrighis disse...

Amiga Lucimara, que memória de elefante! E que memória enraizada, heim! Adorei o artigo, parabéns, continue sempre escrevendo assim,com essa espontanedade, humildade e sutileza, por falar nisso, vc está me devendo um conto...cade? rsrsrsrs bjs

Lucimara Fernandes disse...

Oi Ká!!
Memória de elefante nada... Queria lembrar muito mais... rs. Esses são apenas alguns detalhes que me marcaram mais... Fico feliz que tenha gostado!
Quanto aos contos, acordei lembrando desta dívida com você e acabei de pagá-la... rs. Aguardo seus comentários, desta vez, por e-mail... rs.
Bjs

Nidia Martins disse...

Lu, em uma palavra, teu texto fala da VIZINHANÇA...Muita coisa de nós vem deste senso de vizinhança que as lembranças evocam, da casa que crescemos, dos parentes, dos amigos com quem brincamos...Muito gostoso, parabéns!

Lucimara Fernandes disse...

Oi Nidia Martins, verdade... Tudo isso faz parte da nossa história! Mudei recentemente, após viver 34 anos na mesma casa, e isso mexeu muito comigo... Porém, já estou me adaptando... rs. Mas voltando a falar de VIZINHANÇA, um grande exemplo que tenho do meu pai é o de valorizar as amizades e manter relações com os amigos de infância! Ele faz isso até hoje! E eu também, pois todos contribuíram um pouquinho para eu ser o que sou hoje e estiveram ao meu lado na melhor fase da vida! Escrevendo este post pensei em cada um deles, só não citei nomes para não correr o risco de ser injusta e deixar algum de fora... rs. Fiquei feliz por você ter lido o post e adorei o seu comentário! Muito obrigada! Um grande beijo!

Fernando Antunes disse...

Lu, essa semana tive a oportunidade de ver o documentário do Airton Sena, achei super interessante, mas, não somente pelo fato de ver o Airton, um ídolo brasileiro, mas sim, pelas lembranças de uma época, onde ainda existia em mim, uma certa ingenuidade e uma alegria que não exigia tenta complexidade como nos dias de hoje...somos felizes sim, na atualidade, mas a nostalgia, muitas vezes nos faz sorrir e a sensação boa que as lembranças nos inspira é muito gostosa... adorei ler o seu post, percebi claramente, como se forma um ser humano do bem e de bom caráter...bjks

Lucimara Fernandes disse...

Just, meu querido amigo! É uma grande satisfação quando você lê os meus textos! O seu incentivo sempre foi e continuará sendo muito importante para mim! Viver apenas de passado não é saudável para ninguém, precisamos viver o presente! Mas relembrar nossas experiências nos faz entender o que somos hoje, fortalecer os nossos valores e valorizar as conquistas! Muito obrigada! bjs

Anônimo disse...

...Lu, eu e a Jana acabamos de ler seu post..e a Jana comentou que vc era a menina mais rica da rua. Lembra que a Analisa dormia na sua casa só por causa do café da manhã? Pois tinha hamburguer e refrigerantes..rsrs..isso sem contar de todas as modernidades, onde suas amigas sempre usufruiram...Eram as amigas pobrinhas na casa da amiga rica.
Ah! acabei de encontrar com a Libélula de rabo fino, ela ainda continua de rabo fino, pois está malhando como nunca, ela manda lembranças mas lembra-se vagamente de vc. E a Libélula de rabo grosso, putz, essa está deprimida e com inveja da rabo fino, não mandou lembranças pois nem se lembra de vc! Quanto a outras libéluas, essas partiram mesmo, estão no navio do Greenpeace, todas com um grito de guerra...SALVEM AS LIBÉLULAS!!!! SALVEM AS LIBÉLULAS!!!
E as cigarras, estão se esgoelando e dizendo..volte Lu..volte Lu..estamos com saudade! rsrsrsrs

Bjos

Carla Lamac

Lucimara Fernandes disse...

Carlota e Jana!
Tem coisas que o tempo não muda...
Ainda bem que, pelo menos, as cigarras sentem saudade de mim...
Beijos

André Bianc disse...

KD o comentário que eu postei?

Lucimara Fernandes disse...

Qual comentário, Andrézito??
Você não comentou este post...

Anônimo disse...

Luluzinha, postei e não colou, o será o que houve? Mas tudo bem, com calma e alma, postarei novamente. Antes o que me chamou a atenção foi o comentário da Carla Lamac, ela diz "Você era a menina mais rica da rua." Sempre desconfiei que eras burguesa e patricinha, e até hoje faz birrinha, uma belezinha, não é uma crítica, essa condição é para quem pode. rsrsrsr. Aguarde meus comentários. Bjs
André Bianc

Lucimara Fernandes disse...

Andrézito,
Se você reparou neste detalhe, deve ter reparado também que eu ignorei este trecho ao responder o comentário dela, justamente, porque não concordo com isso... Se eu realmente fosse burguesinha a minha vida seria muito diferente do que é... Mas, infelizmente, não é bem assim... rs. O enfoque do meu post é sobre outros valores, completamente diferente.
bjs

Anônimo disse...

Luluzinha, eu sei, rsrsrssr. Amo provocar vc, tb como amo seus posts, um delite. É impossível ler seu texto e não se emocionar, lembro bem das minhas transitórias raízes, hoje, todas soltas, algumas mortas. Feliz é aquele que tem raízes, que tem histórias do local onde nasceu, cresceu e permaneceu. Sugiro que escreva um romance, sério, vc escreve bem, tem a sacada bem bacana, simples, mas emocionante, seria uma leitura muito prazeirosa, daquelas que quando pegamos o livro, vamos de uma vez só até o fim. Quero muito vê-la sábado. Bjs.
André Bianc

Lucimara Fernandes disse...

Oi Andrézito!
Fico feliz que as minhas histórias tenham feito você relembrar as suas... É importante não esquecer nossas raízes...
Eu já escrevi um romance. Na verdade, foi quando tudo começou... Vou reler qualquer dia desses para ver se consigo melhorá-lo e depois te mostro, ok?
Eu irei ao sarau no sábado!! rs.
Bjs e obrigada pelo incentivo!